Se é daqueles chatos que chegam regularmente atrasados a tudo, relapso leitor, não traga relógio no pulso. Diga que se recusa, “por questões de princípio”, a aceitar o calendário gregoriano. Argumente que, de acordo com o juliano, chegou até bem adiantado. Ninguém vai fazer as contas. Se não vive na mesma cidade que a vítima dos seus atrasos, afirme-se dono de um “temperamento clássico” e explique que os meses gregos mudavam de cada vez que se passava para o outro lado do monte. Se tiver a sorte de topar com alguém trazendo entalado no sovaco um livro de “espiritualidades”, desses que falam de “auras” e “ectoplasmas” e afirmam que os extraterrestres nos raptam “porque nos amam”, murmure algo sobre A Deusa e “ritos inadiáveis” e estará safo, e sobretudo interrogue-se sobre a razão por que quereria encontrar-se com uma pessoa assim em primeiro lugar.
Mas se o encontro for com a cara-metade, ah, aí seja romântico, evoque o calendário lunar e diga que desde que a conheceu apenas consegue reger as suas horas pela argêntea Selene. Em suma, seja babilónio: eles sabiam como chegar atrasados a encontros e ainda sair por aí pecando até ao nascer do… da lua seguinte.