Numa remota província da antiga China (são sempre remotas e sempre na China), os locais praticavam um cruel ritual propiciatório: todos os anos, ao som de Stravinski, faziam afogar duas virgens nas águas do grande rio que ali passa e que frequentemente transbordava, destruindo colheitas, habitações, vidas até.
Em hora feliz um novo governador chegou à província e com ele a notícia de que na capital mudara a dinastia: a China era agora dirigida por homens de superior instrução. Horrorizado com o barbarismo da cerimónia e da música de Stravinski, ele ordenou que os dois sacerdotes incumbidos do rito fossem de imediato afogados no rio que tantas vezes haviam propiciado. Depois projectou canais, diques, transvases; e as instruções do sábio foram executadas com tanto zelo e rigor que em menos de um ano a sua conclusão foi alegremente anunciada e celebrada com música de Grieg, Sibelius e uma banda convidada de que agora me escapa o nome.
O governador, frágil como todo o homem instruído, não viveria um mês para além do remate das suas obras: sentiu-se mal, morreu numa semana, diz-se que os deuses necessitaram dos seus valiosos serviços. A população da remota província da China recorda-o com carinho pela sua sabedoria, e todos os anos afoga dois sacerdotes nas águas do rio, o qual não voltou, até hoje, a estender-se para fora do seu caminho.