No sinal luminoso lia-se “URGÊNCIAS”, mas a recepcionista decidiu que o meu problema não merecia atenção clínica, muito menos àquelas horas perdidas, e sugeriu a tasquinha-aberta-24-horas ali ao virar da esquina ou qualquer coisa tipo oriental que metesse agulhas, pedras quentes e mentes vazias. Eu retorqui que, desde que se pague, num hospital privado tudo é do foro clínico – dores existenciais, roupa que repentinamente deixou de nos servir e angústias relacionadas com Literatura. Então ela entregou-me a uma ortopedista a quem faltavam apenas duas noites para a reforma (problemas de ossos, percebi pelos estalidos; mas isso agora não interessa, estamos a falar de mim, ok?).
Conversámos bastante sobre tudo e sobre nada. Ela explicou-me que “a ortopedia foi o maior avanço da humanidade desde que alguém percebeu que as arestas desgastadas de um berlinde o arredondavam e que dessa forma rolava bem melhor”. Nunca fui muito de jogos, mas achei isso interessante.
Saí do hospital sentindo-me outro. Um tal Nando que bebe J&B e trabalha num gabinete de contabilidade da baixa. O J&B tudo bem, a parte mais chata ainda é essa da contabilidade. Caramba, logo eu, que em contas sou um nabo elevado à décima quinta potência.