Um homem recapitulava toda a sua vida enquanto a maca que ocupava deslizava pelos corredores; e pensou que não a havia vivido na sua plenitude. O rio em que não nadara em criança com medo das cobras de água. O primeiro beijo que não dera com nojo da saliva. As namoradas com quem não namorara porque não queria ter que tomar banho todos os dias. A mulher que não pedira em casamento porque não estava seguro de que ela tomasse banho todos os dias.
Então o momento chegou. O bem-estar, o túnel, a luz muito branca, as vozes chamando. A maca deteve-se. Mãos voaram como pássaros sobre o seu corpo inerte. Mas ele, como sempre, hesitou; e acabou tendo uma experiência de quase-morte.