Ascânio acreditava que não existem guerras justas, apenas pazes injustas. Em rapaz, mobilizaram-no; recusou-se. Encarceraram-no, e ele nada. Torturaram-no, e ele firme. Então prescreveram morte por fuzilamento, mas Ascânio negou-se ainda: a sua objecção de consciência, explicou, era tanto de matar quanto de morrer.
Deplorando o vazio legal, libertaram-no.
Viveu séculos. Dias atrás, porém, um burocrata sem mais nada que fazer tropeçou na ficha de Ascânio e determinou pôr um fim ao abuso.
O enterro sai amanhã, não sei para que cemitério, sequer em que país, mas se puder não falte – ou ninguém assistirá ao funeral de Ascânio, o homem mais velho do mundo.