10.2.09

Júpiter

O cego ia arrancando uns fadunchos tristes da sanfona. Mostraram-lhe uma nota de cinco e apostaram em como ele não era capaz de tocar uma mozartada. Olhou-os com alguma sobranceria e respondeu que por cinco euros nem os Kiss tocava. Aceitou uma nota de vinte. Deu-lhe dois esticões, como que a confirmar que não se rasgava, dobrou-a em quatro e enfiou-a no bolso das calças. Então bafejou os dedos, ajeitou a sanfona e arrancou com a Júpiter. Soaram cordas, metais e madeiras na estação assombrada, gente descia da rua, comboios chegavam apinhados e partiam vazios em piloto automático.

No final foi muito aplaudido, e ele, com vergonha, agradecia e ia explicando que estava meio enferrujado e tal.