24.3.09

Castelo interior

Como Santa Teresa de Ávila disse à carmelita descalça, ponha-se nos meus sapatos, dípode leitor: vai um pai com seu rebento ao supermercado e dá de caras com um homem verde fingindo que é estátua. Achei uma indecência, enganar as crianças dessa maneira – existem técnicas bem mais avançadas, algumas das quais (a modéstia proibe que o diga) inventadas por mim (olhe, já disse e não trouxe corrector, processe-me).

O júnior apercebeu-se do que eu ia fazer e ainda se quis interpor entre mim e a execranda criatura, mas tarde chegou. Com a determinação de um Sir Gawain aliviando o Cavaleiro Verde de uma dor de cabeça, ergui os braços na direcção da abóbada celeste e atirei o BU! mais assustador de que fui capaz com apenas um copo de leite e um café no estômago.

O salto que o embusteiro deu, leitor, havia de ter visto.

O pior é que eles eram afinal dois, e após breve conferência decidiram seguir-nos, semelhando autómatos, pelo corredor dos artigos de higiene pessoal. Aí, sim, aí confesso que senti alguma apreensão e apenas a custo resisti à indignidade da fuga através da secção de sapatos de senhora.