1.2.09

Imagine uma múmia



Saltitámos, eu por causa do ainda combalido tornozelo, o júnior porque acha engraçado imitar-me, até à exposição Impressões do Oriente – De Eça de Queiroz a Leite de Vasconcelos, no Museu de Arqueologia. Curta mas interessante, a mostra fotográfica, deu para confirmar a minha impressão de que na época os artefactos mais estudados eram mesmo as odaliscas. E Leite de Vasconcelos é tão mal conhecido, uma pena.

A imagem da entrada é fabulosa – ocorreu-me agora que é talvez por isso que está à entrada, hahaha –, o estupendo equipamento fotográfico também, que diferença para a hiper-sofisticada tecnologia digital que agora se usa. Senti até um pouco de vergonha. No auditório projectavam um slideshow acompanhado com música, adivinhe qual? O Introitus do requiem de Mozart (depois ainda dizem que no las hay). Claro que isso deu ao rapaz irreprimível desejo – mesmo que ele não se tenha apercebido do complexo mecanismo mental envolvido – de revisitar as múmias. Fiz-lhe a vontade, mas não consegui deixar de pensar que existe algo de moralmente condenável em impor a pessoas que estão mortas há pelo menos um par de milénios a presença de crianças, para mais hiperactivas.

A foto em cima foi tirada precisamente no sector de antiguidades egípcias. O júnior é o que está de costas, eu estou deitado, de pés para ele. É natural que tenha ficado um pouco tremida. Se a gente abana como abana após umas dezenas de anos, imagine uma múmia.