22.2.09

Não creio

Ah, os 40 – essa idade em que deitamos para trás das costas os complexos em relação ao nosso corpo e passamos a sentir apenas vergonha dele. Está o flagelo nutricionista a surtir efeito? Não sei, pantagruélico leitor, nem me importa. Queria despachar tudo o que é balança para a face escura da Lua, mas não vai dar, a minha mãe nasceu em Outubro.

Enfim, decidi que nos próximos dias estarei actualizando a lista de blogues aí à direita. Isso vai talvez fazer-me perder um pouco de cintura. Eu queria ter usado um esquema intrincado, mas reflecti um pouco e concluí que dificilmente os hermeneutas se dariam ao trabalho de o tentar decifrar. Eles preferem andar por aí a conferir quem grafa The Wasteland por The Waste Land e rir muito disso enquanto sorvem as suas aguinhas com gás por palhinhas e vêem qual deles melhor imita o olhar penetrante da vista tapada de Joyce.

Na semana passada, um amigo comum mas simpático apresentou-me ao professor Campos, sabe, o inventor da paisagem.  Combinámos dar um destes dias um passeio no seu jardim, se o leitor autorizar, claro, se não iremos antes para o jardim dele, para tirar umas fotos e me contar como foi lembrar-se de inventar algo tão extraordinário. Espero convite formal amanhã ou no dia seguinte, mas não tenho grande confiança no meu carteiro: em vinte anos de profissão, a única pessoa que ele alguma vez conseguiu encontrar em casa foi o Judeu Errante. O professor não usa telemóvel (tem nojo dos gnomos que vivem dentro dos auriculares) e por e-mail não sei se será viável, hoje até o Gmail me falhou na hora de enviar o boneco para o jornal.

Haverá um fim para tudo isto? Ou uma peça de Beckett na televisão em que quatro encapuçados atravessem a um ritmo regular e sem jamais se tocarem as linhas que unem os cantos de um quadrado traçado no palco?

Hoje? Não creio.