23.6.09

A Áustria não existe. Ok?

Eu nunca tinha assistido a uma peça de Schnitzler. Eu jamais lera uma frase escrita por Schnitzler. Eu não sabia como pronunciar correctamente “Schnitzler”. Sempre suspeitei de que esse Schnitzler nem sequer tinha existido, até porque me diziam que havia nascido austríaco e eu não acredito na existência da Áustria. Sei que isso cobre com o infame véu da dúvida ontológica as vidas e feitos de um monte de celebridades, mas, e então? Repare como Freud, outro “austríaco”, considerava Schnitzler (numa carta que, muito convenientemente, lhe “escreveu”), uma espécie de “versão literária” de si mesmo. Conspirações existem, e quanto mais descaradas, cândido leitor, quanto mais desavergonhadas, mais eficazes. Acredite.

O monólogo durou duas horas que, não fossem aquelas cadeiras (ok, o problema pode ser da minha espinha de fancaria, mas ser-se rezingão é um privilégio que vem com a idade), durariam um instante apenas, porque Rita Durão fez esquecer o tempo que passava. E felizmente o Universo é cíclico, ou ela não poderia ter repetido aquele papel todas as noites. Oh, bolas. Revelei o fim? Desculpe.
[Eu visitando a página da Cornucópia e batendo com a cabeça repetidamente numa porta]
Eu queria ter escrito sobre este assunto antes, queria que fosse ver a Rita Durão, mas apenas agora me apercebo, com pena, de que a peça já saiu de cena. Aqui me detenho. Que fiasco. Enfim, como Beckett, falhar outra vez, falhar melhor. A título de consolação, saiba que o texto, em tradução de José Maria Vieira Mendes, está editado em português pela Cotovia. Pode ler um resumo na página deles.

E por favor, vamos parar com essas invenções de “Áustria”, “Wittgenstein”, “Popper”, “Klimt”, “Mozart”, “Segunda Escola de Viena”, etc. Ok? Caramba, existe um limite para a puerilidade.